domingo, 27 de fevereiro de 2011

I Grande Prêmio de São Paulo - Parte II



Os participantes

Bancada pelo Comendador Sabbado D’Angelo, a tradicional Scuderia Ferrari participou do IV Circuito da Gávea e ficou, também, para a prova de São Paulo, tendo seus carros conduzidos por Attilio Marinoni e Carlo Pintacuda.

Além deles, destaque para Hellé Nice e seu Alfa Romeo “Pássaro Azul” e os três argentinos: Vittorio Coppoli -vencedor do “Circuito da Gávea”-, Victorio Rosa e Augusto Mac Carthy.

Com o limite máximo de 20 participantes estabelecido pela organização e as pré-inscrições de Manuel de Teffé, Domingos Lopes e mais 6 estrangeiros, restaram 12 vagas para o restante do grid, que foram definidas pelo cartel de pontos e vitórias entre corredores brasileiros de destaque.

Sob a manchete “Realiza-se amanhã, finalmente, a primeira disputa do Grande Prêmio da cidade de S.Paulo”, o jornal enumerou os inscritos e destacou ainda uma homenagem a Irineu Correa, que foi o primeiro piloto brasileiro a ganhar uma corrida no exterior (Estados Unidos, 1920).

Vencedor do Circuito da Gávea em 1934, Corrêa faleceu durante a realização da mesma prova no ano seguinte, após bater seu Ford V8 em uma árvore e cair no canal da avenida Visconde de Albuquerque.

“2 – Pintacuda, 4 – Lourenço Ferrão, 5 – Victorio Coppelli, 8 – Manoel de Teffé, 10 – Sartorelli, 12 – Irahy Correa, 16 – Serafim Almeida, 18 – Luis Mastrojacomo, 20 – Francisco Landi, 22 – Eduardo Oliveira Junior, 24 – Antonio Lage, 26 – Vitorio Rosa, 28 – Virgilio Lopes, 30 – Tavares de Moraes, 34 – Hellé-Nice, 36 – Domingos Lopes, 38 – Pintacuda, 40 – Marinoni, 42 – Nascimento Junior.

Nascimento Junior dará a partida ocupando o lugar correspondente ao número 32.

Em virtude de ser o número 32 sempre preferido pelo grande 'az' Irineu Corrêa, a Comissão organizadora prestou hontem uma homenagem ao mallogrado volante não usando-o".

No mais, o jornal publicou um breve resumo da véspera do grande acontecimento: “Ainda hoje serão feitos alguns trabalhos de reparação na pista. Effectivamente, os treinos hontem realizados, demonstraram a existência de algumas falhas que foram annotadas para o devido reparo, durante o dia de hoje.

Durante todo o dia de hoje, os volantes se manterão em repouso. Apenas a numeração das machinas requererá algum tempo dos corredores”.

A véspera

Os prognósticos sobre o desenrolar da corrida eram os mais variados. Muitos consideravam o italiano Carlo Pintacuda o grande favorito para a vitória, o que feria o amor próprio dos brasileiros, que, na noite anterior ao evento, já se aglomeravam em torno de fogueiras ao longo do traçado, comendo amendoim e pipoca. o traçado. “Qual nada... Ele tem que se haver com Teffé e outros, os brasileiros não tem boas machinas, porém possuem uma coragem à toda prova e uma vontade extraordinária de vencer”, revelou um dos espectadores.

Continua...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

I Grande Prêmio de São Paulo

Estou adorando a ideia de vários jornais e revistas colocarem seus acervos na internet para consulta. Assim, como estou de férias e de mudança -esperando os caminhões de entregas e montadores de móveis, instaladores de tv e etc- fico navegando e tentando desvendar um pouco mais de algumas histórias que ficaram para trás.



Como, por exemplo, a obscura corrida realizada em 12 de julho de 1936 pelas ruas do Jardim América, em São Paulo. Meu interesse surgiu quando foram divulgadas na internet imagens do museu de Roberto Lee, em Caçapava. No canto do imóvel, abandonado e empoeirado, repousava um modelo Alfa-Romeo, que muitos diziam ter sido trazido pela corredora francesa Hellé-Nice para a disputa dessa prova.



A Prova

Marcada para um mês após a realização do tradicional Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, o I Grande Prêmio de São Paulo aproveitaria a presença de alguns dos melhores pilotos estrangeiros que estariam no Brasil.

O Automóvel Clube de São Paulo e o Automóvel Clube do Estado primaram pela organização e fizeram tudo com muito critério e antecedência. Não demorou e definiram o percurso, que passaria pela Rua Chile (atual Av 9 de Julho), Rua Estados Unidos, Rua Atlântica, Rua Canadá, Rua Chile e Av. Brasil. Ainda nem se sonhava com a construção do Autódromo de Interlagos, embora já despontassem pilotos famosos, como Chico Landi, por exemplo.

A Tribuna de Honra seria localizada na Praça América, assim como os boxes; a Cronometragem ficaria na esquina da Rua Peru com Av. Brasil, cujos canteiros centrais serviriam de espaço para as arquibancadas;

Após dois momentos de crise intensa, com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e as revoluções de 1930 e 1932, São Paulo vivia novamente momentos de intensa excitação.

No dia 9, o Comendador Sabbado D’Angelo, italiano radicado no Brasil e proprietário da fábrica de cigarros “Sudan”, ofereceu em sua chácara, situada em Itaquera, um churrasco para todos os organizadores do evento, pilotos, jornalistas, pessoas de destaque na sociedade paulistana, políticos paulistas e ao cônsul geral da Itália. À noite, na Radio Kosmos, mais uma recepção, com a divulgação dos prêmios a serem distribuídos.

Houve ainda uma tentativa frustrada de boicote por parte da Associação dos Corredores Automobilísticos (ACA), do Rio de Janeiro. Descontente com a não inclusão de alguns pilotos cariocas, a entidade solicitou que seu filiado Manuel de Teffé não participasse da prova.

Em matéria publicada na véspera da prova, no dia 11 de julho de 1936, o jornal Folha da Noite mostrou os preparativos para a corrida, que incluíam o deslocamento das ambulâncias e o posicionamento do destacamento policial.

Continua...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Retrô


De carona na onda retrô que invadiu a Fórmula-1, a Williams apresentou seu novo carro hoje, quinta, com uma pintura que remeteu a mim e a muita gente aos modelos da Rothmans dos anos 90.



Para ilustrar o post, acabei escolhendo esse FW17, de 1995. Entre os anos de 1998 e 1999, a tabaqueira responsável pela fabricação da marca, de mesmo nome, optou por estampar o vermelho do cigarro Winfield, o que originou um carro totalmente diferente dos anos anteriores.

A partir de 1999, a Rothmans foi adquirida pela British American Tobacco.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entre mortos e feridos...

Na época, muitos condenaram a pobreza técnica do grid dos 500 Km de Interlagos de 1961. O que de certa forma ficou comprovado nos números finais da prova: de 32 inscritos, apenas 28 participaram. Destes, apenas 10 cruzaram a linha de chegada, sendo que a metade era formada por figurantes. Diante daquele cenário, com 2/3 de prova o público debandou.



Realizada em boa parte do tempo com piso molhado, a prova contou com a participação de pilotos amadores e mal equipados. Muitos apenas passearam pelo traçado, sem condições de brigarem por resultados. Um deles, Jaime Guerra, atrapalhou Ciro Caires, que vinha pendurado na Curva 3 em busca de uma prova de recuperação.

Os dois acabaram se chocando e Guerra foi parar no meio dos eucaliptos. Caires, por sua vez, continuou na prova, mas sem equipamento para completar o restante do percurso. Procurando ganhar tempo para se acalmar, Guerra entrou nos boxes e acabou atropelando José Gimenez Lopes e Salvador Losacco. Este último acabou não resistindo e faleceu, aos 47 anos.



No começo, o público chegou a vibrar com a disputa de Celso Barberis, Camilo Christófaro e Ciro Caires. Isso, no entanto, logo acabou e no final já não se notava maior interesse dos espectadores, mesmo com os carros #27 (Peruzzo / Barberis / Zambello), #28 (Peruzzo / Barberis / Zambello) e #81 (Aguinaldo de Góis Filho) tentando impressionar.

No final, destaque para o desempenho de três Fórmulas: o #49-A, de Rizzieri D’Angeli, que terminou em 9° no geral e em 3º em sua categoria; o Porschinho #8-A pilotado por Paulinho Amaral e que terminou em 7° no geral e 2° em sua categoria; e o Mecânica Nacional #45-A de Alcindo Ribeiro, que venceu na categoria fórmula” e terminou em 6° no geral.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

FNM, a equipe


A equipe da FNM, vencedora na V Mil Milhas

Com Mário Olivetti, Amilcar Baroni, Chico Landi e Christian Heins, a "Fenemê" surgiu obtendo grandes resultados em provas de longa duração.

Também, não era para menos. O FNM JK, que levava esse nome em homenagem ao Presidente Juscelino Kubitschek, tinha todas as características de um legítimo Alfa Romeo: -A estabilidade, o motor de quatro cilindros em linha de 2 litros e 108 cv, câmaras de combustão hemisféricas, duplo comando de válvulas no cabeçote, câmbio de 5marchas e pneus radiais.

Uma verdadeira revolução para a época.

Contando com a verba de patrocinadores como "Caracu" e as facilidades de uma estatal, a FNM importava equipamentos da Itália para "apimentar" os motores de corrida.

Coube ao engenheiro Amilcar Barone incorporar ao JK um diferencial autobloqueante, copiado de uma Ferrari pilotada por Landi, e dois carburadores Solex 35 horizontais. Assim, passaram a extrair 145 cv do motor.

Com esse respaldo, a equipe venceu, já em 1960, as Mil Milhas brasileiras, com o JK pilotado por Heins e Landi (foto acima).

Nas 24 horas de Interlagos, a equipe conquistou os três primeiros lugares, um verdadeiro feito histórico. As duplas Álvaro e Ailton Varanda, vencedores, Chico Landi e seu sobrinho Camilo Christófaro, na segunda colocação, e os engenheiros Barone e Lissoni, em terceiro, garantiram excelente publicidade para a montadora.

Entretanto, apesar do sucesso obtido entre 1960 e 1962, a fábrica optou por retirar o apoio oficial. Muitos pilotos independentes continuaram a correr, por todo o Brasil, com JK.

Inclusive, muitos protótipos surgiram utilizando a base do carro.
Como exemplo, podemos citar os protótipos "Espingarda" (foto acima), que conquistou um segundo lugar nos Mil Kms de Brasília, pelas mãos de Carlos Bravo e Mário Olivetti, e o Tornado-JK 2150 da equipe Camional, pilotado por Jaime Silva e Ugo Galina. Ambas histórias estão aqui.

Nosso Volante 13

Abaixo o registro de uma corrida realizada em Piracicaba, em meados dos anos 60. Conduzindo o DKW #13 está Frodoaldo Arouca, que corria escondido da família sob o pseudônimo de "Volante 13".



Na edição de 1961 dessa prova, Arouca barbarizou. Durante a classificação, o piloto saiu rasgando pela pista citadina e chegou a ocupar a primeira colocação. A alegria durou pouco, no entanto, e o debutante, que ainda não conhecia o traçado, bateu antes de completar a primeira volta.

Ao entrar errado numa curva, o DKW preto decolou ao tocar uma guia e só parou quando atingiu um galinheiro. Após sacudir as penas, Arouca não esmoreceu. Consertou o carro e voltou para a pista à noite para treinar, causando um grande desconforto entre os moradores, que reclamaram muito do barulho.

No dia da prova, Arouca tirou um padre da cidade da cama e pediu para que este benzesse seu bólido. Com a pista gravada na memória, ficou fácil para o talentoso piloto dar a volta por cima e conquistar o 2° lugar em sua categoria.

Crédito da Foto: Google / Felipe Bitu

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Simplesmente, Bino

Nada de macacão anti-chamas, ceroula de amianto ou capacete à prova de bala.

Para Christian Heins, a vestimenta se resumia a uma velha camisa vermelha, que utilizava desde o início de carreira, e um velho capacete amarelo, desgastado e arranhado nas pistas. Sabia, inclusive, que a tarefa seria árdua, já que seu parceiro, Chico Landi, sentia dores nas pernas e, por isso, se limitaria a comandar as coisas nos boxes.



Para as Mil Milhas de 1960 (post anterior), a FNM resolveu equipar o modelo JK com mais um carburador duplo, aumentando assim a taxa de compressão e a potência do motor para 150 HP. No mais, retiraram tudo o que era supérfluo para uma prova de competição: - os bancos, para-choques e forros. No mais, Heins contaria com a excelente regularidade mecânica do carro, que parou durante a prova apenas para troca de pneus e reabastecimento.

"Um ótimo carro. Mas não serve só para correr. Titio tem um e usa para passear. Mas é preciso ser muito bom carro para aguentar a Mil Milhas. Tínhamos mais em vista chegar e pretendíamos manter um 'train' de corrida que não forçasse o carro ao máximo. Mas, segredos, não houve: sabíamos que não podíamos lutar de igual para igual com Andreata e Camilo, cujos carros tinham quase o dobro de potência do nosso".

No momento de cruzar a linha de chegada, Landi, sem vaidade, gentilmente recusou a posição no FNM. Afinal, Heins havia pilotado cerca de 3/4 da prova e merecia vivenciar o momento mais espetacular da corrida.

No detalhe da foto, o belíssimo troféu da competição, com a inscrição da "Bardhal", principal patrocinador do evento. Pouco atrás de Landi e Heins, o microfone da Jovem Pan, tradicionalíssma na cobertura de eventos automobilisticos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

V Mil Milhas



Vivendo as expectativas da Mil Milhas Brasil, a Revista Quatro Rodas de Fevereiro de 1961 descreveu o evento como longo e difícil. Apesar da fome, do frio, da sede, do sono, do cansaço e dos perigos, o fundamental era esquecer tudo e acelerar.

Prova pra macho, que começava às 20 e 30 de um dia e terminava ao meio dia do outro; com mais de 15 horas de duração, 1.609.000 metros e 201 voltas no antigo Interlagos, cheio de subidas e descidas.

No ano anterior, a corrida começa com uma largada no melhor estilo "Le-Mans", com os pilotos cruzando a pista, entando dentro do carro e arrancando em busca de glória. Com o clássico Chevrolet #82, Camillo Christófaro dispara na frente e lidera, junto de seu parceiro Celso Barberis, boa parte da prova.



Depois de algumas paradas inesperadas nos boxes por conta de um tanque de gasolina mal fixado, a dupla do #82 perde a liderança às 9 e 30 da manhã para o JK de Chico Landi e Christian Heins.

O Lobo do Canindé ainda insiste: depois de muito esforço e da quebra do recorde da pista em duas oportunidades, supera Landi e reassume a liderança da prova. A 8 voltas do final, à altura da Curva do Lago, o tanque de gasolina volta a se desprender, atingindo a bomba d'água. Camilo consegue chegar aos boxes, mas o motor havia "engripado".

Era o final de prova para a brilhante dupla do #82, que ainda cruzou a linha de chegada em quarto, por dentro dos boxes, empurrado pelos mecânicos.

No momento da bandeirada, uma gafe. O presidente da Bardhal, Evanio Galvão, confunde o JK #28 com o #38 de Heins e antecipa o final da corrida. O primeiro, dirigido por Joluan Olivetti, percebe que se trata de um erro e continua acelerando, deixando a bandeirada final para seu perseguidor, Christian Heins, o verdadeiro vencedor.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A primeira



Se não fossem as fotos ou os vídeos, o que seria de nós? Afinal, todo fã que mantém um blog de automobilismo reconhece uma boa história numa imagem. Para ilustrar esse post, acabei escolhendo a primeira delas. Realizada em junho de 1827, Joseph Nicephore Niépce produziu a imagem da janela de sua casa - exposta durante oito horas e gravada em uma placa de estanho.

Hoje, seja de máquinas profissionais ou até mesmo de celulares mais espartanos, a fotografia pode ser considerada a manifestação mais democrática da arte, imortalizando grandes momentos da história de cada pessoa.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Team Gunston



O Brabham BT20 travestido com as cores da Gunston

Sob o gênio inventivo de Colin Chapman, a Lotus viveu seus melhores anos, produzindo carros revolucionários e heróis como Jim Clark, Graham Hill, Jochen Rindt, Emerson Fittipaldi, Ronnie Peterson e Mario Andretti.

Desses, coube ao inglês Hill conduzir o Lotus 49, com as cores do cigarro Gold Leaf – um dos primeiros patrocinadores sem qualquer associção com o ramo automotivo --, ao título de 1968.

No entanto, ao contrário do que se diz por aí, Chapman não foi o primeiro a introduzir a indústria tabagista na Fórmula-1, já que a Gold Leaf estreou apenas na segunda etapa do Mundial, na Espanha.


A Lotus que ajudou Love a se sagrar campeão

Para a prova de abertura do Mundial, na África do Sul, que também contava pontos para o certame do continente africano, a Gunston, da Rodésia (hoje Zimbábue), inscreveu dois carros para aquela prova, pilotados por John Love e Sam Tingle.

Logicamente, a empresa não tinha pretensões em relação à F-1, já que atuava apenas no mercado africano. No final da temporada, John Love acabou se sagrando campeão do torneio regional com a mesma Lotus que ajudou Hill a conquistar o segundo lugar em Kyalami.



Sam Tingle e bólido sulafricano LDS

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A volta

Sempre senti necessidade de escrever. Durante algum tempo, pude matar essa vontade com o BlogsportBrasil. No entanto, ficou bastante complexo para administrar o espaço na medida em que se tornava cada vez mais conhecido. Assim, resolvi voltar com esse novo blog, fazendo o feijão com arroz. Sem pressão. Espero que gostem!

Ps: Comentem para que vá linkando o espaço de vocês por aqui!